sábado, 26 de março de 2022

EXPOSIÇÃO GREENHOUSE / SEMEAR | ISABEL GARCIA | 02.04.2022 | 16.00 - 20.00




GREENHOUSE/SEMEAR


SEMEAR os quatro cantos do mundo numa Greenhouse, é a metáfora da recriação do planeta que habitamos.

Dentro da sala quadrada da Galeria, cujas proporções se aproximam do cubo, podemos imaginar os pontos cardeais Norte, Sul, Este, Oeste, em cima Zénite e em baixo Nadir. Orientações primordiais que permitiram que as sociedades primitivas se organizassem em territórios que lhes pareceram propícios. O acto de espetar uma estaca no solo, ou amontoar uma quantidade de pedras, era o sinal da fundação. 

Tomando a sala quadrada como o lugar escolhido para a fundação, Isabel Garcia demarca o território onde encena a criação de um mundo glacial, asséptico, intocado, disponível para todas as possibilidades. 

Nas quatro direcções desse mundo, são semeadas matrizes que contêm a génese de tudo o que é material e visível: animais, vegetais, minerais, terrestres, aquáticos e aéreos. 

Semear de novo o mundo dentro de uma Greenhouse cúbica, pode parecer uma brincadeira de criança que povoa uma casa de cartão.

 Encenar e teatralizar, faz parte da aprendizagem e é um acto de entendimento e interpretação da vida e do mundo. 


 

EXPOSIÇÃO SUCESSÃO | ALBERTINA SOUSA | 02.04. 2022 | 16.00 - 20.00


         



 








Inspira... 


A linha é longa. Dentro das caixas vai pelo movimento que perscruta modos possíveis de habitar o espaço contido. Prolonga-se por planos impressos de trabalho minucioso que se recolhem sobre si mesmos, por método, por acaso, ou por um ajustamento entre ambos, mas sempre a fundo. Na quietude e na inquietude. A linha insiste, persiste, resiste. Avança. Refuta a condição de imobilidade que as percepções emolduradas têm por certa. Vai de encontro à única face transparente e mostra-se em partes que sugerem haver mais, muito mais do seu extenso corpo que se tornou segredo para a vista... 

O que podemos saber das raízes da árvore quando olhamos a copa? 

                                                                     

Aparecem as formigas. Aparição insólita ou transmutação da linha em pequenos pontos e traços desiguais que afirma a sua liberdade de ser qualquer outra coisa quando quer. Como acontece na verdade da brincadeira de uma criança. 



Inspira ainda...


As caixas tornam-se transparentes e dentro delas a linha integra pequenas arquitecturas de silêncio. Por modos rectilíneos estende-se ao longo da densidade morna do feltro. Oculta-se por entre a potência dos espaços concentrados. Afirma-se sobre os relevos dançados pela claridade sendo apenas visível à tona da última volta. Como por mistério, a recta torna-se curva sem deixar de ser recta. Talvez porque acompanha a geografia do que a suporta... 

O que podemos saber da luz no deserto quando olhamos as dunas? 



Expira devagar... 


A linha discorre agora planamente. Por entre a evidência do princípio e do fim joga-se à relação com a profundidade. Imprime-se sobre a transparência tomando direcções determinantes. Os planos dos vários trajectos sobrepostos são ávidos da brisa que balança as distâncias e as aproximações. Estabelecem-se relações que duram entre o gesto que as fixa e o gesto que as solta. Conscientes e precisos. Composições irrepetíveis que o olhar busca em travessia descobrindo que do visível ao invisível acontece o que o movimento do corpo suscita, mesmo se mínimo. Olhamos. Simultaneamente perto e longe está o mar... 

O que podemos saber da contiguidade entre a água e o ar quando olhamos o horizonte?



Expira tudo...


Suspensão. A linha ergue-se ao sol. Propaga-se em percursos de uma escrita inaugural sobre planos diáfanos. Porventura trechos de canções matinais com sonoridades contidas nas entrelinhas dos tracejados a prumo. O som da luz a passar. Em total evidência a linha acontece como franca declaração. Todos os circundantes pontos de vista sobre si integram o sentido de como na aparente repetição fluí continuamente o recomeço...

O que podemos saber da alpinista desconhecida quando olhamos a montanha que subiu?




Marta Traquino, 

30 de Março de 2022.