terça-feira, 11 de janeiro de 2022

ABERTURA DE EXPOSIÇÕES | 13 DE JANEIRO | 16.00 - 20.00

 


 



Esta exposição estabelece a correlação temporal e material sobre o trabalho manual e artístico de três mulheres da mesma linhagem genética- duas rendeiras e uma artista que se predispõe a questionar, descontextualizar e trabalhar à volta e com as peças criadas pela sua família. 

 Considerando o território rural e isolado em Portugal no século XIX e princípio de XX,  reconhece-se a falta de recursos educacionais e culturais disponibilizados ás figuras femininas nas províncias, figuras essas que apenas consideravam o crochet entretenimento ou escape, na inconsciência do tesouro que criavam e consequentemente, na marca artística que deixariam para as futuras gerações. 

 Com a exposição “Entrelinhas”, a artista encontra uma relação estética nos naperons feitos pela sua avó paterna e bisavó materna e o seu trabalho contemporâneo. Em termos formais, os processos distinguem-se na medida em que na renda utilizam-se como pontos fulcrais a simetria, o foco e repetição; o oposto do seu trabalho, assimétrico, abstrato. Em contraste, em termos conceptuais, ambos os processos resultam do sentido de identidade, liberdade artística e linguagem decorativa.

  A artista explora, predominantemente com o desenho, as narrativas de sua infância, que num labirinto de memórias fotográficas se expandem a partir do mesmo para a escultura, dando ao corpo de trabalho elementos não só autobiográficos como também multifacetados e enigmáticos, incluindo objetos que fazem parte da família, intervenções pictórica nas rendas originais e valorização da sua materialidade em diálogos frescos e intuitivos através da técnica do decalque e novas composições. 

 Os laços emocionais são o que trazem um sentido nostálgico às peças, que desde a estética portuguesa antiga ao contemporâneo transbordam a melancólica poesia da verdadeira saudade. 

 Questiona-se a existência da veia artística de família, sendo que se identifica á tanto tempo e no presente, os mais novos também fazem promessas em relação á arte, nas suas variadas formas.

Será esta linha de tempo, uma linha contínua?



                                                                                                                                               Fabiana Simões