
Alberto Carneiro
Curadoria:
Tobi Maier
07/12/2019
– 08/02 /2020
A Cooperativa Diferença apresenta, em conjunto com a Galeria
Quadrum / Galerias Municipais, um núcleo da exposição “Topografias Rurais /
Rural Topographies”, com curadoria de Tobi Maier, a partir de analogias entre a
obra de Alberto Carneiro e a de três artistas de gerações e contextos
geográficos diferentes: Ana Lupas, Lala Meredith-Vula e Claire de Santa Coloma.
As notas de Alberto Carneiro para um manifesto da arte
ecológica foram originalmente redigidas como entradas do seu diário, entre
dezembro de 1968 e fevereiro de 1972. Um período temporal num passado distante,
pré-Chernobil e muito antes de o termo «permacultura» ter sido cunhado ou de os
efeitos das aceleradas alterações climáticas começarem a sentir-se. Numa altura
em que testemunhamos uma crescente urbanização, os artistas procuram no meio
rural uma fonte de inspiração.
A exposição encontra-se dividida em duas secções, cobrindo uma
variedade de suportes utilizados por Alberto Carneiro. No ano em que celebra o
seu quadragésimo aniversário, a Cooperativa Diferença (de que Alberto Carneiro
foi sócio e membro do núcleo fundador e onde realizou exposições individuais em
1979 e 1981) apresenta uma série de desenhos a grafite produzidos no final da
carreira do artista e que nunca antes foram expostos. Estes trabalhos aludem às
imediações do seu atelier, em São Mamede do Coronado, perto do Porto, bem como
às paisagens montanhosas do Norte de Portugal. São também apresentados três
trípticos elaborados a partir do esmagamento, sobre papel, de pétalas de flores
colhidas pelo artista no seu jardim particular. Duas esculturas em madeira de
buxo e um dos pequenos objectos lúdicos realizados nos últimos anos de vida completam
a exposição na Cooperativa Diferença.
A segunda secção da exposição, instalada na Galeria Quadrum (onde
o artista realizou cinco exposições individuais entre 1975 e 1983), evoca os
gestos performativos do artista. Como a balsa da medusa, o centro do espaço da
galeria é ocupado por “Metáforas da água ou as naus a haver por mares nunca de
antes navegados” (1993-1994), juntamente com trabalhos e documentação derivados
da sua “Operação estética em Vilar do Paraíso”, realizada em março de 1973 numa
localidade nas imediações de Vila Nova de Gaia.
Os trabalhos de Claire de Santa Coloma fazem referência à obra de
Alberto Carneiro e à do escultor franco-romeno Constantin Brâncuși.
Para Santa Coloma, o processo da escultura é um ato de resistência. Situadas no
espaço urbano, as suas rotinas diárias fazem alusão às de um agricultor ou de
um artesão. A prática da cinzelagem manifesta-se como quase terapêutica e
decididamente espiritual.
Ana Lupas criou as suas esculturas de forragens, sobretudo em
formas circulares, em colaboração com comunidades de aldeias da Transilvânia.
Concebida a partir de 1964 para um ambiente exclusivamente rural, a obra “The
Solemn Process” consiste numa série de estruturas corpóreas prototípicas de
várias dimensões, feitas a partir de materiais perecíveis, como palha de trigo,
cânhamo, algodão, madeira e metal.
Por fim, as fotografias de Lala Meredith-Vula pertencentes à série
“Haystacks” (iniciada em 1989 e ainda em curso) também emergem no leste
europeu, um contexto que está longe de ser homogéneo e que ainda hoje se debate
com a desordem resultante da dissolução dos regimes autoritários após a queda
da Cortina de Ferro, há trinta anos atrás, no ano de 1989.
Lupas, que foi alvo de repressão por parte do regime comunista,
durante o seu processo de criação a partir de meados da década de 1970,
executou as suas esculturas em colaboração com diversos habitantes locais,
enquanto a investigação e representação de palheiros empreendida por
Meredith-Vula ao longo de uma década também lhe permitiu aproximar-se do povo
da Albânia, terra nativa do seu pai.
Os visitantes poderão considerar estas posições artísticas
semelhantes na forma, mas, todavia, diferentes quanto à sua conceção histórica.
Em conjunto, criam uma rede de diferentes abordagens ao rural, ao mesmo tempo
que chamam a atenção para preocupações ecológicas. Estas obras constituem
poderosos significantes num discurso global sobre o regionalismo, constituindo,
igualmente, um apelo (poético) à ação no âmbito do nosso ambiente natural.
Alberto Carneiro (São Mamede de Coronado, 1937 – Porto, 2017) foi
um artista português.
Ana Lupas nasceu em Cluj, em 1940, onde vive e trabalha.
Lala Meredith-Vula nasceu em Sarajevo, em 1966. Vive e trabalha em
Leicester.
Claire de Santa Coloma nasceu em Buenos Aires, em 1983. Vive e
trabalha em Lisboa.
A exposição pode ser vista na Galeria Diferença, de terça a sexta,
das 14h00 às 19h00 e aos sábados entre as 15h00 e as 20h00, até 8 de fevereiro
2020.
A exposição pode ser vista na Galeria Quadrum, Rua Alberto
Oliveira, Complexo dos Coruchéus, Lisboa, de terça a sexta-feira, das 14h30 às
19h e ao sábado e domingo das 10h às 13h e das 14h às 18h, até 23 de fevereiro
2020.
A Galeria
Diferença e as Galerias Municipais agradecem o apoio da Fundação Carmona e
Costa na edição do catálogo.