quinta-feira, 20 de outubro de 2016

 


Os amarelos e azuis de Irene Buarque

Não só de amarelos e azuis é composto o mundo, mas também de outras cores, mas o mundo que Irene Buarque nos oferece no presente é só feito de amarelos e azuis. (…)
As pequenas onze telas retangulares onde habita o azul, e as outras onze onde habita o amarelo, dispostas horizontalmente em duas filas, definem escalas cromáticas, mas não são um mero exercício. Trata-se de localizar, apurar a cor e prever o seu destino nas nuances da escala, nas passagens e contaminações possíveis. Evocação de Joseph Albers e das suas pinturas intituladas "Homenagem ao Quadrado" que se estende às oito telas, quatro em amarelo e quatro em azul, com o quadrado inscrito no quadrado. (…)
Há ainda as pinturas sobre madeira onde deslizam as formas pontiagudas, proas contra a popa de outra embarcação, estabelecendo equilíbrios geométricos e assimetrias, entre azuis e amarelos.  Donde vêm estes barcos, assim como os amarelos e azuis? Vêm de há muitos anos atrás, mas acima de tudo da necessidade de reter através da fotografia o mar com os seus azuis profundos (Atalaia), e os amarelos do pôr-do-sol. O hábito de fotografar e reter a imagem (foto da Ilha do Pico) no instante fugaz em que ela se dá, é agora incorporado neste olhar reflexivo que a pintura integra. O vagar do seu fazer, com tempos de espera, e distância, permite utilizar a memória distante juntamente com outras mais atuais. 
Sendo uma exposição e simultaneamente uma instalação em torno da cor, as obras de Irene Buarque retomam o rigor geométrico, bidimensional e minimalista que lhe é habitual, aliadas à saturação cromática, em amarelos e azuis. (…)
Esta exposição resulta de um longo trabalho e processo de indagação, de perdas e de ganhos, e de um diálogo permanente da artista com o mundo, em particular consigo própria. Nela a maturidade do caminho faz-se cruzando amizades e saberes, projetando vários domínios das artes e da expressão com proximidades à arquitetura e ao design numa unidade global reunindo a pintura, a fotografia, o desenho e o tom de Sei Miguel.

Cristina Azevedo Tavares
Lisboa, outubro de 2016