Os amarelos e azuis de Irene Buarque
Não só de amarelos e azuis é composto o mundo, mas também
de outras cores, mas o mundo que Irene Buarque nos oferece no presente é só
feito de amarelos e azuis. (…)
As pequenas onze telas retangulares onde habita o azul, e
as outras onze onde habita o amarelo, dispostas horizontalmente em duas filas,
definem escalas cromáticas, mas não são um mero exercício. Trata-se de
localizar, apurar a cor e prever o seu destino nas nuances da escala, nas
passagens e contaminações possíveis. Evocação de Joseph Albers e das suas
pinturas intituladas "Homenagem ao Quadrado" que se estende às oito
telas, quatro em amarelo e quatro em azul, com o quadrado inscrito no quadrado.
(…)
Há ainda as pinturas sobre madeira onde deslizam as formas
pontiagudas, proas contra a popa de outra embarcação, estabelecendo equilíbrios
geométricos e assimetrias, entre azuis e amarelos. Donde vêm estes barcos, assim como os amarelos e azuis? Vêm
de há muitos anos atrás, mas acima de tudo da necessidade de reter através da
fotografia o mar com os seus azuis profundos (Atalaia), e os amarelos do
pôr-do-sol. O hábito de fotografar e reter a imagem (foto da Ilha do Pico) no
instante fugaz em que ela se dá, é agora incorporado neste olhar reflexivo que
a pintura integra. O vagar do seu fazer, com tempos de espera, e distância,
permite utilizar a memória distante juntamente com outras mais atuais.
Sendo uma exposição e simultaneamente uma instalação em
torno da cor, as obras de Irene Buarque retomam o rigor geométrico,
bidimensional e minimalista que lhe é habitual, aliadas à saturação cromática,
em amarelos e azuis. (…)
Esta exposição resulta de um longo trabalho e processo de
indagação, de perdas e de ganhos, e de um diálogo permanente da artista com o
mundo, em particular consigo própria. Nela a maturidade do caminho faz-se
cruzando amizades e saberes, projetando vários domínios das artes e da expressão
com proximidades à arquitetura e ao design numa unidade global reunindo a
pintura, a fotografia, o desenho e o tom de Sei Miguel.
Cristina Azevedo Tavares
Lisboa, outubro de 2016