D
E D E N T R O
Exposição
de Albertina Sousa, Galeria Diferença, 28 de Maio de 2011.
Vem de
dentro o que aqui se apresenta. De caixas fechadas, mas transparentes.
No seu
interior estão superfícies de feltro onde linhas se estendem, tomando caminhos,
lançando direcções, compondo estruturas. Desenhos que em si afirmam mais o
espaço que não ocupam do que aquele que preenchem. Espaço vazio, revelação da
natureza do que se dá de modo sucinto.
Caixas
que guardam mas ao mesmo tempo mostram, não o que contêm mas antes a sugestão
das possibilidades do que contêm. As tiras de feltro enroladas encerram em si
traços e percursos. Para se darem a ver seria preciso tocá-las e movê-las.
Desenrolar, fazê-las avançar. Sabemos que o feltro é maleável, apesar de se
constituir por agregação de elementos.
A
sugestão da mudança, da transformação, dá-se ao olhar mas não se permite
efectivar. A contensão provocada pela inacessibilidade à matéria torna assim
mais longo o movimento do pensamento que se detém sobre o que pode ser, sobre o
que em potência se guarda.
Há um
rolo de feltro que se desenvolve em espaço aberto mostrando a totalidade do
desenho que transporta. Tem também palavras em si inscritas que em tom de
manifesto intersectam a curiosidade quase satisfeita do olhar, reclamando
silêncio pela concentração no fazer. A atenção ao momento que antecede o que
está para vir.
Marta Traquino,
25 de Maio de 2011.